A música



O Chafariz

25 de outubro de 89
Conquista de direitos e não doação de lotes
O sonho da casa própria, vencer o aluguel
Filas infinitas pra receber o papel

A escritura que estampa um semblante feliz
Que o trouxe a outra fila, a do chafariz.
De lá reencontros, novos encontros.
Novas relações e partilha de sonhos

Porém o sonho veio caindo por terra
Graças a terra sem asfalto e o cascalho que empoera
As fossas mostram o fosso da política
Pessoas vistas como voto e não vidas

Na cidade sem saneamento há distribuição
Não de escolas e parques, mas sopas por Luiz Estevão.
E o helicóptero de Roriz descendo no comício
Conheço desde criança a política do pão e circo

Das ruas de terra, meu lar, minha casa
Duas décadas, a construção não para
A ti dedico poesia e palavras
Vejo luzes acesas é Samambaia


Lembro que banhei no chafariz pra matar o calor
Levava baldes d’água pra encher um tambor
Volta pra casa no finalzinho da tarde
Para ir com mamãe no ônibus da SAB

Bem é verdade que em outra cidade concluí estudos
Mas na classe intitulado de pés sujos
Mas hoje é orgulho o que um dia foi ofensa
Samambaia me trouxe tudo, família, casa e consciência.

As primeiras lições, o professor que ensina
Primeira sala de aula foi o Parque Três Meninas
Biblioteca, lazer e diversão.
Hoje entregue ao abandono e depredação

Quem de ti usou, hoje lhe dá as costas
Em Brasília tem investimentos, mas na COPA
Temos parques de preservação, nascentes
Poluídos e incendiados através de uma politica incompetente

Que vende alvará, de onde brotam imensos prédios
O povo não possui, mas engenheiro tem privilégios
Ao invés de colégios, praças, campos de futebol
Arranha céus não permitem ver o nascer do sol


Das ruas de terra, meu lar, minha casa
Duas décadas, a construção não para
A ti dedico poesia e palavras
Vejo luzes acesas é Samambaia


Eu só queria voltar um tempo atrás
E subir nas árvores que hoje não existem mais
E desenhar no chão o sol pra não vir chuva
Quando no campinho de terra avistava a nuvem escura

Samambaia e sua cultura tão rica
Artesanato, quadrilhas juninas, mamulengo, poesias
Bandas que encantam e cantam em palcos
Artistas que reivindicam apenas seu espaços

Já atingimos a maioridade e ainda tantos problemas
Milhares de habitantes sem teatro ou cinema
Cruzando Bocas da Mata, Primaveras
Negação de direitos ainda prosperam

Mas se temos vida e saúde é instantâneo, cultural
Ocupamos as ruas promovendo Saraus
Cantando um canto como o chafariz que jorrava água
Por vida e amor a Samambaia.


Das ruas de terra, meu lar, minha casa
Duas décadas, a construção não para
A ti dedico poesia e palavras
Vejo luzes acesas é Samambaia


Por Markão Aborígine
25 de outubro

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