A Crítica

Primeiro ato do dia foi ter o prazer de ouvir em primeira mão a música "O Chafariz".

Só tenho a dizer que está obra não se trata de música por música, é um clássico ao qual me identifico muito, pois adoro músicas que falam e relatam comunidades.

A composição feita da alma é única e nisso o rapper, amigo e parceiro Markão Aborígine sempre acerta em cheio, canção com amor é, e sempre será canção para todos(as).

Parabéns!

Por Japão Viela 17
Músico




O Chafariz é uma canção... atemporal.

Conta a história do inicio de onde nos moramos, da para enxergar mentalmente cada verso citado por Markão, detalhadamente. O sentimento de saudade é facilmente visto naquele que viu o que é cantado.

Mas por quê citei que essa musica era atemporal? Fácil!

Ao mesmo tempo em que ela transmite imagens da saudade ela também transmite algumas imagens da luta, de lugares mais jovens em Brasília, como os condomínios Por do Sol e Sol Nascente, da Estrutural e até pouco tempo alguns lugares da própria Samambaia.

Ou você vai me dizer que nunca passou nesses lugares e falou ‘’ Caramba! Me lembrou quando era lá na quadra. Uns dez anos atrás, era assim’’.

Musicas atemporais me encantam e essa será uma que ficara assim, sempre haverá a saudade do começo do nosso lar, do lugar aonde plantamos a nossa casa.

Por Rodriggo Misquita
Músico e educador popular




Suelen, 28 anos, professora de história, nascida no Gama, crescida na Santa Maria. Bem essa sou eu, como tant@s outr@s da minha geração, cidadã que viu as jovens cidades do Distrito Federal (DF) nascerem e cresceram.

Vi mais que isso, vi o preconceito da cidade vizinha, no meu caso o Gama, preconceito e discriminação do “pé de Toddy”, vivi a falta de transporte público (Ah! Como me lembro do Chevette amarelo e da Kombi com buraco no chão que normalmente me levavam para a escola).

Senti a tristeza da falta de área verde nos fundos das casas, da falta das comerciais pertinho de casa, da ausência das praças, dos “quadradrões” no fim da rua. Senti a cidade que foi desenhada para silenciar a população, arquitetada para evitar o encontro, a concentração do povo (e povo junto é povo que luta). Nunca me enganei, os postes de luz fraca eram para cultuar medo e insegurança.

Mas juntou-se um povo criativo, um povo com memória; memória retirante, de que veio para construir uma vida nova; memória de DF, daqueles que aprendem com a luta da Ceilândia, da Estrutural e tantas outras. Juntaram-se jovens que por decisão irão viver a/nas cidades e EU VI a cidade sorrir, cantar, dançar, louvar, ousar, organizar, lutar...

E essa também é a minha geração, aquela que organizou grupos de quadrilhas ensaiando na rua, que organizaram Pastorais da Juventude (PJ), que fez teatro, que (re)significou espaços, que formou grupos musicais e que cantou em Rap nossa realidade.

E gritou “SOMOS FORTES POR QUE SOMOS MUITO, TEMOS UMA HISTÓRIA QUE NÓS INUNE” eu ouvi esse grito nos evento de pre grito dos Excluídos, nas formações e em um desses momentos tive a alegria de ouvir a canção o Markão, Aborígine: Natural da Terra, natural de Samambaia, lutador daquela bela cidade.

A canção “O chafariz”, a qual anima esse texto me trouxe essas memórias de infância: minha e da Santa Maria, minhas e divididas com tantas outras, Anas, Júlias, Alex, Rose... A canção é um fragmento da história do DF que não está nos livros, que então registramos nós, a Cantamos nós e a celebramos.

Por Suelen Gonçalves
Professora de História e Educadora Popular




Markão Aborígine mostra a difícil saga de Samambaia na música O Chafariz

Em homenagem aos 23 anos de Samambaia, Markão lança sua música O Chafariz contando a história da cidade e o sofrimento de seus moradores. Por que o Chafariz? Por que era nele que os primeiros moradores da cidade tomavam banho. Não havia saneamento básico.

Ali habitavam os invasores que não tinham condições de pagar uma morada, outros que “ganharam lotes” e que na música de Markão vemos como “conquista de direitos, não doação de lotes”. Por que ele está certo em argumentar isso? Porque a Constituição Federal, em seu artigo 5º, garante ao cidadão brasileiro o direito à propriedade e em seu artigo 6º mostra que o Estado deve dar assistência ao desamparados. É direito social garantido por lei!

Dessa forma, os marginalizados, excluídos da sociedade por falta de poder econômico têm direito sim a moradia, educação, saúde, lazer. E o Estado tem obrigação sim de concedê-los. Não é favor, é obrigação.

Chega de “endeusar” políticos corruptos que só lembram da cidade em época eleitoral, enxergam a cidade como “curral eleitoral”. Eles não são celebridades, são empregados da sociedade e devem ser cobrados por todos os direitos que a sociedade possui e não são cumpridos.

Samambaia nasceu como favela, sem saneamento, sem estrutura. Apenas a classe pobre ou miserável habitava a cidade. Mas ela cresceu. Aos 23 anos Samambaia é pólo imobiliário. Prédios tomam conta do verde que antes existia.

No entanto, a classe menos favorecida dessa mesma cidade permanecem sem estrutura. Não possui lazer, não há teatro, cinema. Não têm cultura, o centro cultural está na promessa. O parque Três Meninas está abandonado. Escolas sucateadas. Pracinhas, ciclovias? Somente nas quadras pares... e nem tanto. As melhores estruturas da cidade moram nos maiores prédios – pura especulação imobiliária.

A falta de lazer e do que fazer faz os jovens de Samambaia ficarem ociosos e contribui para o aumento da violência e uso de drogas na cidade.
Completando 23 anos, Samambaia ainda sofre com a falta de vontade política. Uma cidade que cresceu em tamanho e população, mas que ainda sofre com o descaso público.

E como bom conhecedor e morador de Samambaia, Aborígene descreve com riqueza de detalhes, verdade e sentimento sobre essa trajetória de escassez e descaso político sofrido pelos moradores de Samambaia. Por que o descaso? Aborígene mostra. É classe sem poder econômico. Os políticos só se lembram para pedir votos... vivem no pão e circo.

O que fazer? Reivindicar, lutar, cobrar. “Negação de direitos ainda prospera” e como é direito você tem direito de cobrar e o Estado obrigação de acatar.

Damos os parabéns a atitudes como a de Markão em levar a consciência à comunidade através da música, em promover cultura de rua já que não há espaço, em ajudar menores em conflito com a lei fazendo assim o papel que o governo deveria fazer.

Façamos valer o direito social para todos ... porque “minha cidade não é curral eleitoral de ninguém”.

O Pão e Circo ainda existe, mas nós podemos acabar com isso.

Por Juliana Souza
Cientista Política




Não sei se você me entende, mas pergunto abertamente: o que pretendem as políticas públicas com relação às periferias do Brasil?

Um dia desses, ouvindo o discurso do presidente do Uruguai durante a Rio + 20, brilhante e visionário discurso que parece que surtiu pouquíssimo efeito na cabeça oca dos tantos representantes estatais ali presentes, acordei mais uma vez para o modeo totalmente insustentável de desenvolvimento que praticamos em nosso planeta. O que pretendemos?

Há milênios, as comunidades tradicionais, as diversas comunidades nativas, brilhantes em sua integração e respeito com o meio em que vivem, tentam nos ensinar, a nós, predadores-mor do planeta terra, o que e como fazer para viver em harmonia com o meio que nos circunda... além de fazermos ouvidos mocos, estamos tratando de acabar com o extermínio iniciado há séculos atrás, como o que está acontecendo em Belo Monte e com os irmãos Guarani-Kaiowá...

Quando ouço um rap como esse do MC Markão Aborígene, a razão mais uma vez se faz irracional frente ao óbvio. A pergunta surge, avassaladora: como assim? até quando? pergunto e repito insistentemente, até quando vão cruelmente crucificar e criminalizar nossos descendentes?

Respeitem meu direito cidadão, meu espaço-tempo urbano que engoliu minha comunidade por inteiro, achatou completamente nossa dignidade que ainda resiste. Devolvam o que ainda resta de humanidade em mim!


Por Daraína Pregnolatto

Diretora Geral /Guaimbê - Espaço e Movimento CriAtivo
Ponto e Pontinho de Cultura, Leitura, Estória, Valor, Saúde, Mídia Livre e Cultura Digital Quintal da Aldeia /Pirenópolis GO

www.guaimbe.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário