sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Retratos da invasão

Ao contrário do que se imagina, não são pobres criminalizados e excluídos ocupando espaços públicos exigindo direito a moradia e sim, obras grandiosas, filhas da especulação imobiliária que brotam no meio de praças públicas, áreas verde e campos de futebol.

Basta percorrer Samambaia por alguns minutos e nota-se o pseudo desenvolvimento da cidade, através de inúmeros andares. A cidade recebe a dita Classe Média Alta ofertando proximidade ao metrô, a apenas 20min do Plano Piloto.

Não mais! Hoje enfrentamos engarrafamento em nosso trânsito, o esgoto não suporta a quantidade de degetos - sim, isto é um trocadilho, os novos moradores não preocupam-se com a vida social da cidade, apenas dormem aqui. Não utilizam o Mercado do Camilo, ou compram o queijo na Feira da 202.

Ao meu ver são parasitas. Invadem um terreno, furtam o lazer de crianças, interrompem até o trafego de aviões. E tudo de forma lícita - sim, isto é ironia. Como entender que áreas destinadas a praças, parques, preservação hoje tem como atração prédios, apartamentos?
Resposta: Propina, política corrupta, compra de alvarás.

Aos 23 anos lutar por Samambaia, esta jovem senhora, é fundamental. Para que meus filhos, Carlos e Marcus Jr. num futuro próximo tenham no mínimo um parquinho de metal, pois subir nas árvores do cerrado... Disto não tenho esperança.




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Trechos da canção:

"Quem de ti usou, hoje lhe dá as costas
Em Brasília tem investimentos, mas na COPA
Temos parques de preservação, nascentes
Poluídos através de uma politica incompetente

Que vende alvará, de onde brotam imensos prédios
O povo não possui, mas Engenheiros têm privilégios
Ao invés de colégios, campos de futebol
Arranha céus não permitem ver o nascer do sol"

domingo, 28 de outubro de 2012

Possibilitando memórias



Após o lançamento da canção O Chafariz, venho recebendo inúmeras mensagens e críticas que deixaram-me muito feliz. Talvez seja por isto que ainda valha a pena acreditar, usar o Rap como luta, como memória.

Leia e também se emocione.


"1989, eu e meu pai saímos da casa alugada portando algumas ferramentas: enchada, facão, enchadeco, para capinar o que seria nossa futura residência. Como chegar: através do 367 da TCB, única linha de coletivo. Junto a nós aquele ônibus transportava outros desbravadores.

Por entre o cerrado fomos a procura de alguns piquetes que identificassem o local. Achado a "agulha" iniciamos a capinação.

Meus pais me deram uma incumbência, proteger os tijolos e algumas telhas compradas com ajuda de amigos. Um pequeno abrigo foi feito, pronto, o primeiro membro da família a se mudar definitivamente para a cidade de Samambaia, cidade ainda não, cerrado.

12 anos de idade, e o pensamento em começar uma vida nova, com casa própria, duas semanas após, estava pronta. Sem reboco, tijolo a vista, muro não havia, assim, forçadamente foram surgindo novas amizades, empréstimo de ferramentas era o início de uma conversa.

Rua de cascalho, água no Chafariz, iluminação pública não havia, o que fazia as noites mais lindas.

Estudo só em outra cidade, a boca da mata virou romaria de estudantes buscando o crescimento educacional. Poeira era o de menos, respirávamos o novo, e assim foi crescendo.

Aqui encontrei amigos e esposa. Minha filha, hoje 7 anos, nasceu nessa cidade, orgulhosa se diz "Samambaiensa". orgulho também do pai."

Por Cleres Dantas